Aparentemente é isso mesmo
quarta-feira, junho 20, 2007

Ela, a bicicleta


A Race Across America, considerada a maior prova de ciclismo ultra-distância do mundo, começou há mais de uma semana (domingo, 10/6). Esta é a 26ª edição da prova, que corta os Estados Unidos de costa à costa, passando por 15 estados em um percurso de 4.897 km, algo em média de oitocentas mil pedaladas.

A estratégia de prova, com descanso e alimentação, é de cada atleta, que terá até 12 dias para cruzar a linha de chegada. A largada será Ocean Side, na Califórnia e o final em Atlantic City, em Nova Jersey, indo do Oceano Pacífico ao Atlântico. Segundo a organização da prova, os 24 competidores solo (a prova pode ser feita sozinho, em dupla ou em grupos de 4 e 8, que revezam entre si) irão pedalar uma distância combinada equivalente a circundar a terra na linha do Equador por quatro vezes. Em 1991, a revista americana Outside desenvolveu um critério para classificar as competições mais difíceis do mundo.

Entre estes critérios, o AGONY INDEX servia para descrever o quanto os participantes sofriam durante a competição. A Race Across America foi a a vencedora no quesito "agonia pura". Na categoria solo individual, considerada a mais exaustiva de todas, existem 2 brasileiros competindo pela expectativa de ser o primeiro sul-americano a completar o desafio na categoria solo. Para se ter uma idéia, a prova deste ano já tem um campeão, que pedalou médias diárias de mais de 500 kilômetros, dormindo menos de 4 horas por dia (vai por mim que é mta coisa ... até de carro rodar distâncias como estas cansam ... imagina de bicicleta?). A norte-americana Kerry White, única das cinco mulheres que iniciaram a prova na categoria solo que ainda estava na disputa, desistiu nesta terça por esgotamento físico. Muito poucas mulheres praticam ciclismo. Para se ter uma idéia, numa prova amadora realizada recentemente, de 500 participantes, 20 eram mulheres. Acho que devem considerar um esporte agressivo e excessivamente masculino.

Minha paixão pelo ciclismo vêm de cedo. Da primeira bicicleta aos 6 anos. Na adolescência ela continuou a me acompanhar. Ia para o SESC nos domingos de verão, quando o dinheiro permitia, com a minha amiga magrela, ir até a casa das minhas amigas de colégio fazer aqueles trabalhos que tomavam tardes inteiras de bicicleta.

Meu namorado à época tentou me acompanhar, mas estava sempre cansado pra pedalar. - Tudo bem, vá de ônibus e a gente se encontra lá, eu dizia. Claro que eu podia ir com ele, mas e o prazer de sentir o vento no rosto, de desbravar aquela subida interminável, de chegar antes de todo aquele povo que demorava uma eterninade pra descer o que eu fazia em segundos de bicicleta?

Depois veio a faculdade e com ela a responsabilidade de tentar ser gente grande. Trabalho, dinheiro curto e às idas ao SESC não estavam sendo o suficiente. Eu queria mais, mas tinha poucas oportunidades. Pra onde ir? Qual companhia? É longe e eu não posso ir pedalando, pegando avenidas tão perigosas. Minha amiga ficou lá, encostada, enferrujando.

Alguns anos depois, reencontrei o desejo e a possibilidade de pedalar. Comprei outra bicicleta, duas na verdade, para que minha cara-metade me acompanhe. E não é que deu certo? Grupos de passeio, treinos, amigos ciclistas, trilhas, circuitos, gostos em comum ... fui descobrindo um pequeno universo à parte, o mundo que eu queria ter conhecido a alguns anos atrás, mas não tinha possibilidade. E é muito bom poder fazer tudo isso com alguém que te acompanhe e respeite a paixão pelo esporte.

O acidente não me tirou o gosto, mas me deu prudência e consciência de que os acidentes podem fazer parte de quem gosta da vida vista de cima de uma bicicleta (o ciclismo é considerado um dos esportes mais perigosos do mundo, vá no youtube e procure por videos de ciclismo ... a maioria mostra tombos e acidentes ...).

A maior mudança de todas foi no cotidiano. Os amigos entenderem (ou não) frases como: preciso ir, amanhã tem trilha cedo, ou ainda perguntarem valores de peças e acessórios e não entenderem como é possível não preferir uma bolsa ou outro item, preferir estar com um grupo que eu nem sei direito como são se estiverem sem capacete a estar fazendo qualquer outra coisa com pessoas que sabem se prefiro com ou sem açúcar.

Não pretendo competir em um evento como a RAAM, conheço meus limites, mas admiro atletas que o fizeram, pela obstinação e acima de tudo, pelo amor ao pedal. E disso eu entendo.

Fonte - http://www.lost.art.br/raam20.htm

postado por Carla *
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